“Mal se soube da morte do historiador e jurista, José
Hermano Saraiva, alguns sectores da nossa sociedade, muito bem representados
nos blogs e nas redes sociais, não tardaram em afirmar que “havia menos um
facho na terra”. Com o corpo do ilustre divulgador da história ainda quente, já
o maniqueísmo andava à solta. Como lembra Luís Menezes Leitão no blog Delito de
Opinião, “os clássicos diziam que mors omnia solvit”, isto é, a morte dissolve
tudo. Porém, esta gente cá do burgo diz que não vai em mistificações e que não
esquece a presença do professor no executivo de Salazar durante o Estado Novo.
Na hora da sua morte, o folclore habitual recorre às sua
típicas simplificações e não consegue respeitar e louvar o serviço que este
homem prestou ao país e à sociedade. Se tivermos em conta uma apreciação global
da sua vida e acção, José Hermano Saraiva é muito mais do que um mero fascista.
Isso é o puro maniqueísmo lusitano a funcionar. José Hermano Saraiva
distinguiu-se como um comunicador nato da nossa história, talvez romanceando
demais, mas isso não diminui o excelente trabalho que prestou ao país e que o
país – como as audiências aos seus programas o demonstram nos últimos anos –
nem sempre respeitou ou esteve à altura deste pequeno grande homem.
Sim, contra as críticas que me possam fazer por conivência
com um dito “fascista”, eu não tenho problema em dizer que respeito e admiro
esta figura. José Hermano Saraiva não tem as mãos manchadas de sangue ou de
outras atrocidades maiores e não é por ter pertencido a um governo autoritário
– por pouco tempo, diga-se – que cai por terra todo o seu bom trabalho como
jurista (raramente lembrado) e como historiador e comunicador da história. Na
RTP, José Hermano Saraiva fazia verdadeiro serviço público, transmitia a nossa
história e cultura à população.
Não ter em conta isto no julgamento apressado que alguns fizeram,
é – repito – puro maniqueísmo. Não conseguir ver José Hermano Saraiva para além
deste facto é cegueira ideológica. Mas enfim, já sabemos como são alguns
sectores da nossa sociedade, nomeadamente a esquerda, no tratamento que fazem a
quem não é do “seu lado” – um eterno fascista. Gostava de ver este puritanismo
todo e simplificação no julgamento de outras figuras da história, como Fidel,
Che Guevara ou Estaline. Para estes, há sempre um “mas”. Olhem, vão bugiar e
deixem o homem descansar em paz, que bem merece.”
Alexandre Poço, redator
3 comentários:
um Homem que merece este post
um povo que não merecia este Homem
Foi severamente punido pela sua passagem fugaz como Ministro da Educação do Estado Novo.
A democracia portuguesa que em boa hora amanheceu a 25 de Abril, viria a criar personagens bem mais sinistras que a do professor, que agora partiu, e que deixou obra, nunca tendo a tentação de enriquecer por meios ilícitos à conta do país que o viu nascer há quase um século.
Foi um homem que se destacou numa obra digna de nota e que conseguiu transmitir em palavras simples o nosso passado histórico. É triste ver como os ideiais politicos deturpam os bons só porque sim.Mas o futuro dá muitas reviravoltas.Gostei da analise que fez.
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