terça-feira, 24 de julho de 2012

Caricatura de José Hermano Saraiva





“Mal se soube da morte do historiador e jurista, José Hermano Saraiva, alguns sectores da nossa sociedade, muito bem representados nos blogs e nas redes sociais, não tardaram em afirmar que “havia menos um facho na terra”. Com o corpo do ilustre divulgador da história ainda quente, já o maniqueísmo andava à solta. Como lembra Luís Menezes Leitão no blog Delito de Opinião, “os clássicos diziam que mors omnia solvit”, isto é, a morte dissolve tudo. Porém, esta gente cá do burgo diz que não vai em mistificações e que não esquece a presença do professor no executivo de Salazar durante o Estado Novo.

Na hora da sua morte, o folclore habitual recorre às sua típicas simplificações e não consegue respeitar e louvar o serviço que este homem prestou ao país e à sociedade. Se tivermos em conta uma apreciação global da sua vida e acção, José Hermano Saraiva é muito mais do que um mero fascista. Isso é o puro maniqueísmo lusitano a funcionar. José Hermano Saraiva distinguiu-se como um comunicador nato da nossa história, talvez romanceando demais, mas isso não diminui o excelente trabalho que prestou ao país e que o país – como as audiências aos seus programas o demonstram nos últimos anos – nem sempre respeitou ou esteve à altura deste pequeno grande homem.

Sim, contra as críticas que me possam fazer por conivência com um dito “fascista”, eu não tenho problema em dizer que respeito e admiro esta figura. José Hermano Saraiva não tem as mãos manchadas de sangue ou de outras atrocidades maiores e não é por ter pertencido a um governo autoritário – por pouco tempo, diga-se – que cai por terra todo o seu bom trabalho como jurista (raramente lembrado) e como historiador e comunicador da história. Na RTP, José Hermano Saraiva fazia verdadeiro serviço público, transmitia a nossa história e cultura à população.

Não ter em conta isto no julgamento apressado que alguns fizeram, é – repito – puro maniqueísmo. Não conseguir ver José Hermano Saraiva para além deste facto é cegueira ideológica. Mas enfim, já sabemos como são alguns sectores da nossa sociedade, nomeadamente a esquerda, no tratamento que fazem a quem não é do “seu lado” – um eterno fascista. Gostava de ver este puritanismo todo e simplificação no julgamento de outras figuras da história, como Fidel, Che Guevara ou Estaline. Para estes, há sempre um “mas”. Olhem, vão bugiar e deixem o homem descansar em paz, que bem merece.”

Alexandre Poço, redator

3 comentários:

Obtuso disse...

um Homem que merece este post
um povo que não merecia este Homem

Felizardo Cartoon disse...

Foi severamente punido pela sua passagem fugaz como Ministro da Educação do Estado Novo.
A democracia portuguesa que em boa hora amanheceu a 25 de Abril, viria a criar personagens bem mais sinistras que a do professor, que agora partiu, e que deixou obra, nunca tendo a tentação de enriquecer por meios ilícitos à conta do país que o viu nascer há quase um século.

zira disse...

Foi um homem que se destacou numa obra digna de nota e que conseguiu transmitir em palavras simples o nosso passado histórico. É triste ver como os ideiais politicos deturpam os bons só porque sim.Mas o futuro dá muitas reviravoltas.Gostei da analise que fez.